Utopia e distopia

A utopia é uma ideia presente na literatura e na filosofia que descreve uma sociedade imaginária, idílica, perfeita e justa, na qual as pessoas vivem em harmonia. Por exemplo: uma sociedade em que não existem desigualdades de qualquer tipo.

A distopia é o contrário da utopia: uma representação de uma sociedade imaginária, injusta e caótica na qual ninguém gostaria de estar. Por exemplo: uma civilização humana que está sujeita a alienígenas.

Utopia e distopia são conceitos opostos. Esses termos são usados na filosofia, na política ou na economia para se referir a sociedades imaginárias que não existem no presente, mas que poderiam vir a existir (dependendo do caso, é mais ou menos provável que isso aconteça).

A ideia de utopia é usada para propor organizações alternativas que são consideradas melhores do que as atuais. Em contrapartida, explanações sobre sociedades distópicas são usadas para sugerir como o mundo não deveria ser. Em ambos os casos, a realidade atual é criticada, apontando os aspectos que precisam ser melhorados.

Além disso, ambos os conceitos são usados em disciplinas artísticas, especialmente no cinema e na literatura, com o intuito de despertar no espectador ou no leitor uma compreensão diferente e crítica da sociedade atual. Dessa forma, são criados lugares que não existem, perfeitos e isolados de outras civilizações. Essa ideia não tem origem apenas na literatura, mas também na própria etimologia da palavra, dado que utopia significa literalmente “não lugar” ou “lugar nenhum”.

O uso da distopia é mais comum do que o da utopia, pois é mais usual descrever sociedades futuras em que há sistemas políticos totalitários, elementos tecnológicos dominantes, desastres naturais ou invasões de diferentes seres, que tornam a vida muito difícil nessas condições.

Na maioria dos relatos distópicos, é frequente a combinação de elementos reais (porque se referem a algo que existe ou são semelhantes a ele) com fenômenos irreais (porque descrevem situações que não ocorrem no presente e geralmente estão ligados à ficção científica).

Características da utopia e da distopia

UtopiaDistopia
DefiniçãoÉ uma ideia de uma sociedade imaginária, harmoniosa, justa e desejável.É a ideia de uma sociedade imaginária, caótica, injusta e indesejável.
Sistema de governoBenevolente.Tirânico.
AmbienteHarmônico.Ameaçante.
Ciência e tecnologiaEm prol do benefício humano.Contra o ser humano.
Ética e moralValores elevados.Valores não nobres.

Características da utopia

As características que tornam uma sociedade utópica desejável são:

  • O sistema de governo é benevolente. O sistema de governo é pacífico, funciona corretamente e garante os direitos, o bem-estar e a igualdade das pessoas. Em algumas utopias, pode não haver um governo central, mas a sociedade funciona de forma organizada e todos os indivíduos se sentem bem nela.
  • O ambiente é harmônico. O ambiente é tranquilo, pois as pessoas vivem em harmonia umas com as outras, com os animais e com a natureza. Além disso, os espaços utópicos geralmente são bonitos e acolhedores.
  • A ciência e a tecnologia são para o benefício dos seres humanos. A ciência e a tecnologia são ferramentas que permitem aos seres humanos uma vida melhor. Por exemplo, o desenvolvimento de máquinas serve para melhorar o trabalho.
  • A ética e a moral são valores elevados. A ética e a moral orientam as pessoas a respeitar os outros, a promover o bem-estar social, a aceitar a liberdade de expressão e a ter igualdade.

Características da distopia

As características que fazem com que uma sociedade distópica seja indesejável são:

  • O sistema de governo é tirânico. O sistema de governo é totalitário, pois é um regime que controla os indivíduos e restringe sua liberdade. Em algumas distopias, não há um governo que concentre o poder, mas há outras entidades que exercem o domínio, como líderes, robôs ou alienígenas.
  • O ambiente é ameaçador. O ambiente é inóspito, pois há violência, crime, desigualdade, guerra e/ou submissão. Além disso, os espaços geralmente são hostis e os seres humanos não têm um bom relacionamento com a natureza, porque a destruíram ou devido a algum desastre ambiental.
  • A ciência e a tecnologia são contra os seres humanos. A ciência e a tecnologia muitas vezes prejudicam os seres humanos, pois normalmente as criações tecnológicas ou científicas (robôs, computadores e máquinas) se voltam contra seus inventores e contra a humanidade.
  • A ética e a moral são valores não nobres. A ética e a moral não servem para melhorar a vida das pessoas, mas para torná-la pior. Os sujeitos são guiados por valores que promovem a desigualdade, o individualismo e o baixo nível de tolerância.

Origem dos termos “utopia” e “distopia”

A palavra “utopia” foi usada pela primeira vez por Tomás Moro, em 1516, no seu livro De optimo republicae statu, deque nova insula Utopia, libellus vere aureus, nec minus salutaris quam festivus (Sobre o melhor estado de uma república e da nova ilha Utopia, um pequeno livro verdadeiramente dourado, não menos benéfico que entretido), para se referir a uma sociedade perfeita e igualitária na qual as pessoas viviam em harmonia.

Essa palavra provém do latim moderno utopia, que se origina da união das palavras gregas οὐ (“não”) e τόπος (“lugar”) e do sufixo latino –ia. De acordo com alguns autores, sua origem remonta à união de εὖ (“bom”) e τόπος (“lugar”) com o sufixo latino –ia. Dessa forma, “utopia” refere-se a um lugar que não existe ou a um lugar que é bom, ideal ou agradável.

Quanto à origem do termo “distopia”, a palavra apareceu pela primeira vez em 1868 em um discurso de John Stuart Mill, um político britânico, que a usou para fazer críticas às ações e aos objetivos de seu governo.

Distopia provém do latim moderno dystopia, formado pelo prefixo grego δυσ– (“mal”) e pela palavra latina utopia (da qual o U foi eliminado). Assim, o conceito se refere a um lugar ruim que não existe.

Exemplos de utopia

  1. A República, de Platão. Ainda que o termo utopia não existisse na Grécia Antiga, nesse livro a sociedade ideal é considerada uma cidade-Estado democrática na qual há três grupos sociais: os governantes (encarregados de governar com justiça), os guerreiros (encarregados de defender a república) e os trabalhadores manuais (encarregados de produzir todos os elementos necessários para si e para os demais).
  2. Leviatã, de Thomas Hobbes. Nesse livro, a sociedade ideal é governada por um Estado absoluto, que é o resultado do contrato social entre as pessoas e tem a responsabilidade de manter a ordem, já que a liberdade dos indivíduos é garantida, no entanto, são estabelecidos limites para assegurar o bem-estar de todos.
  3. Socialismo utópico. É um conceito desenvolvido por diferentes autores, como Robert Owen (1771-1858) e Flora Tristan (1803-1844), e pressupõe que a sociedade ideal será alcançada quando a organização capitalista for superada e quando o Estado puder garantir a igualdade (para que a pobreza deixe de existir), o acesso aos serviços básicos (para que todos possam utilizá-los) e a cooperação de todos os sujeitos (para que todos trabalhem com o objetivo de produzir os alimentos e os elementos necessários para viver).
  4. A Cidade do Sol, de Tommaso Campanella. Essa obra descreve uma sociedade utópica no topo de uma montanha cujo governo é justo e composto por um líder, Hoh, o Metafísico, e por três chefes, Pon, Sin e Mor. Nessa civilização, a tecnologia é usada para melhorar a vida das pessoas e a produção é coletiva, pois todos trabalham e descansam a mesma quantidade de tempo e compartilham os alimentos e os objetos que produzem.
  5. Nova Atlântida, de Francis Bacon. Esse romance conta a história de um lugar mítico habitado por uma sociedade ideal, harmoniosa e equilibrada. Essa comunidade se desenvolveu graças ao conhecimento científico e tecnológico, que melhorou a vida das pessoas em relação à produção, à política e à economia.

Exemplos de distopia

  1. Um Mundo Feliz, de Aldous Huxley. Esse romance conta a história de Lenina Crowne e Bernard Marx em um cenário distópico. A sociedade em que essas personagens se encontram é dividida em castas e é controlada por um governo autoritário, que monitora todos os cidadãos e censura a criação artística, a religião e outros tipos de conhecimento e práticas.
  2. Alphaville, de Jean-Luc Godard. É um filme cujo enredo descreve a história de Lemmy Caution, um espião que deve ir a Alphaville para realizar duas missões. Alphaville é uma cidade distópica na qual uma máquina controla os pensamentos e o comportamento das pessoas e onde há várias práticas proibidas, tais como o uso de uma seleção de palavras.
  3. Matrix, de Lana Wachowski e Lilly Wachowski. Esse é o primeiro filme de uma tetralogia que conta a história de Thomas Anderson, um homem que trabalha como programador e hacker e que descobre que a realidade em que vive é uma ilusão virtual controlada por máquinas.
  4. Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago. Esse romance narra a história de como as pessoas contraem uma doença que as deixa cegas. Partindo dessa pandemia, descreve-se uma sociedade distópica em que imperam o egoísmo, o caos e o desespero, e que é controlada por um governo repressor e autoritário.
  5. Pedra no Céu, de Isaac Asimov. Esse romance conta a história de Joseph Schwartz, um alfaiate do século XX, enviado para o futuro. O planeta Terra daquela época é descrito usando os clichês da ficção científica distópica: encontra-se devastado após um acidente nuclear, está com poucos recursos naturais e altos níveis de radioatividade. Há ainda outros elementos característicos desse gênero, como uma galáxia governada por um imperador injusto e a ameaça de uma guerra bacteriológica.

Referências

  • More, Tomás (1615). La Utopía. Trad. don Francisco de Quevedo y Villegas. M. Repulles.
  • CELENTANO, Adrián. (2005). Utopía: Historia, concepto y política. Utopìa y Praxis Latinoamericana, 10(31), 93-114
  • Neusüss A (1992). “Dificultades de una sociología del pensamiento utópico”. Em: Sociología de la utopía. Barcelona, Hacer, 40
  • Claeys, G. (2016). Dystopia: a natural history. Oxford University Press.

Como citar?

As citações ou referências aos nossos artigos podem ser usadas de forma livre para pesquisas. Para citarnos, sugerimos utilizar as normas da ABNT NBR 14724:

ESPÍNOLA, Juan Pablo Segundo. Utopia e distopia. Enciclopédia de Exemplos, 2023. Disponível em: https://www.ejemplos.co/br/utopia-e-distopia/. Acesso em: 29 abril, 2024.

Sobre o autor

Autor: Juan Pablo Segundo Espínola

Licenciatura em Filosofia (Universidad de Buenos Aires)

Traduzido por: Márcia Killmann

Licenciatura em letras (UNISINOS, Brasil), Doutorado em Letras (Universidad Nacional del Sur).

Data de publicação: 14 julho, 2023
Última edição: 14 julho, 2023

Esta informação foi útil para você?

Não

    Genial! Obrigado por nos visitar :)