Mitos morais

Os mitos morais são narrativas que explicam a origem e a existência do bem e do mal ou que têm um ensinamento moral, ou seja, dizem como as pessoas devem agir.

Os mitos são narrativas transmitidas oralmente que incluem acontecimentos sobrenaturais e são considerados verdadeiros por determinadas civilizações ou religiões porque surgiram para responder a diferentes perguntas.

Além dos mitos morais, há os mitos cosmogônicos (que narram a criação do mundo), os mitos antropogônicos (que narram a origem dos seres humanos), os mitos teogônicos (que narram a origem dos deuses), os mitos etiológicos (que narram a origem de outros seres e fenômenos), os mitos fundacionais (que narram a fundação de lugares) e os mitos escatológicos (que descrevem o fim do mundo).

Características dos mitos morais

  • Local. Em geral, os mitos ocorrem em lugares desconhecidos.
  • Tempo. Os acontecimentos podem ocorrer antes do surgimento dos seres humanos ou quando eles já existiam, mas nunca são ambientados em um período histórico.
  • Personagens. Podem ser deuses, semideuses, pessoas ou seres naturais e, em muitos casos, costumam representar forças opostas.
  • Origem. São narrativas anônimas, passadas de geração em geração, que foram modificadas a tal ponto que podem ter versões muito diferentes.
  • Temas. São muito variados, mas sempre relacionados a questões morais ou à oposição entre o bem e o mal.
  • Visão de mundo. Dão informações fundamentais sobre como as pessoas em determinadas civilizações entendem ou compreendem o mundo e como ele funciona.
  • Finalidade. Explicam a origem de determinados preceitos morais e ensinam como as pessoas devem se comportar.
  • Dicotomia. Costumam apresentar duas forças ou elementos opostos, como o bem e o mal, o sagrado e o profano.

Exemplos de mitos morais

  1. A origem da regra da hospitalidade (mito grego)

Zeus, o deus dos reis, e Hermes, o deus dos viajantes, dos mensageiros e das fronteiras, assumiram a forma de humanos e chegaram à Frígia, uma cidade, no meio de uma tempestade. Os deuses pediram aos habitantes um lugar para passar a noite, mas todos recusaram, exceto Filémom e Baucis, que permitiram que eles entrassem em sua casa.

Baucis percebeu que os dois estrangeiros eram divindades porque ele lhes havia servido comida várias vezes, mas nunca se saciavam. Baucis contou a Filémom, que decidiu sacrificar seu ganso aos deuses. Quando ele foi buscar a ave, ela saiu correndo em direção a Zeus, que disse ao dono da casa que não havia necessidade de fazer tal sacrifício e que destruiria a cidade porque a maioria dos habitantes não havia aceitado os deuses em suas casas.

Baucis e Filémon subiram uma montanha com os deuses e Zeus inundou a cidade, mas salvou a casa do casal que os havia acolhido. O rei dos deuses também lhes disse que eles poderiam fazer um pedido. Baucis e Filémon lhe disseram que queriam ser guardiões de um novo templo e que queriam viver por muitos anos e morrer juntos. Zeus atendeu ao desejo deles.

Este mito explica a origem da lei da hospitalidade, que era muito importante na Grécia Antiga, e tem um ensinamento moral: aqueles que acolhem estranhos em suas casas serão recompensados.

  1. O anel de Giges de Platão (mito grego)

Giges era um pastor e, certa vez, quando estava andando no campo, encontrou um cavalo de bronze e, sobre ele, o corpo de uma pessoa morta. Esta pessoa tinha um anel, que Giges não hesitou em pegar. O anel era mágico e, quando girado, tornava invisível a pessoa que o usava. O pastor o usou para enganar a rainha, matar o rei e dominar o reino.

Este mito não narra a origem do bem e do mal, mas explica que em qualquer sociedade haverá homens que praticarão o mal e, portanto, para Platão, era necessário que houvesse leis condenando o roubo e o assassinato.

  1. Licaão (mito grego)

Licaão foi um rei que fundou a cidade de Licosura. No início, era um rei muito justo, mas acabou começando a fazer sacrifícios aos deuses. Certa vez, Zeus se fez passar por um peregrino para ver o que estava acontecendo na cidade de Licosura. Ele se hospedou no palácio de Licaão, mas o rei (pensando que ele era apenas um peregrino) queria sacrificá-lo. O deus o puniu transformando-o em um lobo e incendiando seu palácio.

Com este mito, pretendia-se transmitir o ensinamento de que sacrifícios humanos não deveriam ser feitos e que as leis da hospitalidade deveriam ser respeitadas.

  1. Rei Midas (mito grego)

Midas era o rei da Frígia e, tendo sido hospitaleiro com Sileno, Dionísio, o deus da fertilidade e do vinho, disse-lhe que lhe concederia um desejo. Midas lhe disse que queria ter o poder de transformar em ouro tudo o que tocasse, e Dionísio concedeu seu desejo.

Mas Midas não havia pensado bem em relação ao seu desejo: até mesmo a comida que ele tocava se transformava em ouro. Midas pediu a Dionísio que lhe tirasse o poder e o deus lhe disse para lavar as mãos no rio Pactolo. Midas foi até o rio, mas quando mergulhou suas mãos nele, o rio se transformou em ouro.

Este mito procura transmitir uma lição de moral: não se deve ser ganancioso e deve-se ter cuidado ao pedir algo aos deuses.

  1. A punição da Atlântida por Crítias, de Platão (mito grego)

Crítias estava participando de um debate sobre a sociedade ideal e, quando chegou sua vez de falar, contou a história de Atlântida, uma cidade que estava submersa no mar. Esta cidade era linda, o povo era virtuoso e honrava os deuses. Mas, com o tempo, os cidadãos começaram a se comportar mal e a desobedecer aos deuses. Os deuses decidiram que puniriam os atlantes por seu comportamento e, por isso, cobriram a cidade com água e lama.

Este mito procura transmitir o ensinamento de que não se deve ser arrogante com os deuses.

  1. A caixa de Pandora (mito grego)

Pandora foi a primeira mulher a habitar a Terra e estava noiva de Epimeteu. Eles se casaram e, como presente de casamento, receberam uma caixa com um aviso escrito: era proibido abri-la.

Epimeteu se esqueceu da caixa, mas Pandora não conseguia deixar de imaginar o que havia dentro dela. Um belo dia, ela abriu a caixa e, assim, liberou todos os males do mundo.

Este mito explica a origem dos males do mundo e também foi usado para transmitir o ensinamento de que todas as ações têm consequências.

  1. Dédalo e Ícaro (mito romano)

Dédalo era um arquiteto e Ícaro era seu filho. O rei Minos pediu a ele que o ajudasse a construir um labirinto no qual aprisionaria o Minotauro. Dédalo concordou em fazer a construção e foi para Creta com seu filho, mas quando terminou a construção, Minos os trancou no labirinto para que ninguém soubesse como sair.

Dédalo teve a ideia de que eles poderiam fazer asas de penas e mel para escapar. Pai e filho fizeram as asas, colocaram-nas e Dédalo advertiu Ícaro de que ele deveria ter muito cuidado, pois, se voasse muito alto, o mel derreteria ao sol e, se voasse muito baixo, as penas se molhariam com a água do mar.

No início, Ícaro obedeceu ao pai, mas depois começou a voar muito alto. O mel derreteu, as asas se desfizeram, Ícaro caiu no mar e se afogou. Dédalo ficou triste com a morte do filho e o enterrou em uma ilha que chamou de Icária para homenageá-lo.

Este mito foi usado para explicar a importância de ser obediente e cuidadoso.

  1. A origem de Satanás (mito cristão)

Lúcifer era um anjo que vivia com Deus no céu. Mas este anjo era muito orgulhoso e se rebelou contra Deus porque queria ser como Ele. O orgulho era um pecado muito grave, por isso Deus o expulsou do céu para sempre. A partir deste momento, ele adquiriu o nome “Satanás”, que em hebraico significa “adversário”.

Este mito explica a origem do mal, que é representado por Satanás, em oposição ao bem, que é representado por Deus.

  1. A origem do pecado (mito cristão)

Adão, o primeiro homem na Terra, e Eva, a primeira mulher na Terra, viviam no Éden, um belo lugar natural onde nada lhes faltava. Adão e Eva podiam fazer tudo o que quisessem, exceto comer um fruto proibido por Deus.

Um dia, a serpente, que era a representação do demônio, convenceu Eva a comer o fruto proibido. Eva percebeu que o fruto era agradável para ela e que também lhe dava sabedoria. Então, persuadiu Adão a comer um também.

Deus percebeu o que Adão e Eva haviam feito, expulsou-os do paraíso e os condenou a serem mortais e a trabalharem para se alimentar.

Este mito explica a origem do pecado, conhecido como “pecado original”, por ser o primeiro pecado e por ser um pecado com o qual todas as pessoas nascem.

  1. O castigo da vaidade (mito romano)

De acordo com este mito, havia um jovem chamado Narciso, que era o homem mais bonito do mundo. Muitas pessoas se apaixonaram por ele, mas o jovem era muito vaidoso, zombava e maltratava as pessoas que declaravam seu amor por ele.

Por causa de seu comportamento, Narciso foi punido pelos deuses a se apaixonar por seu reflexo. Um dia, o jovem estava caminhando pela floresta, viu um rio e foi beber água. Quando viu seu reflexo, apaixonou-se por si mesmo e não conseguia parar de olhar para si mesmo.

Depois de um tempo, o jovem morreu de fome e solidão.

Este mito explica as graves consequências que a vaidade pode ter.

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Giani, Carla. Mitos morais. Enciclopédia de Exemplos, 2025. Disponível em: https://www.ejemplos.co/br/mitos-morais/. Acesso em: 31 de janeiro de 2025.

Sobre o autor

Autor: Carla Giani

Formação Superior em Letras (Universidad de Buenos Aires).

Traduzido por: Márcia Killmann

Licenciatura em letras (UNISINOS, Brasil), Doutorado em Letras (Universidad Nacional del Sur).

Data de publicação: 23 de janeiro de 2025
Última edição: 23 de janeiro de 2025

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